Personal Learning Environments - Uma nuvem de conhecimento e cooperação sustentada pela aprendizagem pessoal.

    As minhas escolhas de leitura e visionamento para se compreender, não o potencial porque já estão em uso em muitos e diferentes contextos, mas as vantagens da criação dos "Personal Learning Envinonmets" (PLE's), ambientes pessoais de aprendizagem, vão para um artigo de um dos especialistas portugueses sobre o assunto, José Mota, Personal Learning Environments: Contributos para uma discussão do conceito, e para um vídeo, Teaching Technique 19: Personal Learning Environment da The K. Patricia Cross Academy que achei muito orientador e muito concreto em relação à criação e uso dos  PLE's em ambiente de ensino, porque acredito que sem um pouco de orientação a criação de um ambiente pessoal de aprendizagem pode acabar por se tornar num enorme caos em constante expansão (como o universo que não deixa de ser um local de criação) onde as oportunidades de aprendizagem pessoal ao longo da vida se podem vir a perder devido ao seu enorme potencial de variedade e dimensão.



    A primeira escolha
 
    Personal Learning Environments: Contributos para uma discussão do conceito de José Mota é um artigo que, como o nome indica, reflete e procura enriquecer com mais informação o debate sobre o conceito dos ambientes pessoais de aprendizagem, os PLEs. É um artigo que se divide em quatro partes. As origens e fundamentos do conceito, as suas variadas definições e características, a relação destes ambientes pessoais com os ambientes virtuais de aprendizagem institucionais (VLE's) e por fim as várias tentativas de operacionalização prática de um personal learning environment, que acabam por ser apresentações teóricas de projetos na área dos PLEs.

    Na primeira parte podemos verificar que os Personal Learning Environments, estão intimamente  ligados com os avanços das tecnologias de comunicação e com as mudanças sociais e culturais por elas provocadas. O conceito de Web 2.0 (a evolução da internet ligada ao conceito de versão tão característico do desenvolvimento aplicacional) está também ligado a novos desenvolvimentos na educação e na aprendizagem em profunda ligação com os princípios do e-learning 2.0, onde o poder e a autonomia dos alunos, a colaboração entre todos os elementos envolvidos no processo de aprendizagem, a aprendizagem ao longo da vida, o uso das novas aplicações sociais e a própria rede como espaço de socialização tomam um papel de cada vez de maior relevo.

    A emergência dos Personal Learning Environments (PLEs) está ligada à defesa da abertura a uma liberdade criativa de aprendizagem que não é permitida pelos sistemas virtuais de aprendizagem institucional, mais conservadores e próximos das práticas tradicionais de educação, (Virtual Learning Environmentes - VLE), rígidos que obedecem a regras definidas pelas própria instituições e onde o saber está depositado e é transmitido aos estudantes.

    A interoperabilidade entre várias tecnologias, o seu uso na aprendizagem, que permite aos utilizadores integrarem as suas experiências em vários contextos como, por exemplo, as redes sociais, a aprendizagem formal e informal propiciada pelas tecnologias, a disponibilidade para colaborar, o acesso cada vez mais facilitado a especialistas, a criação das redes de partilha de informações, a interação social, a quantidade maciça de informação disponível, que podem ser consultadas de forma interativa a qualquer momento em qualquer lugar, a participação de todos, a qualidade das comunicações, tudo isto ajudou e contribuiu e continua a contribuir para a construção de uma definição muito diversificada de aprendizagem pessoal apoiadas nessa mesma tecnologia.

    Na segunda parte podemos verificar que existem, para diferentes autores como Ron Lubensky, George Siemens, Scott Wilson, Graham Attwell e Cristina Costa, Terry Anderson e Stephen Downes um conjunto muito diversificado de características e funcionalidades que os Personal Learning Environments podem incorporar na sua função de aprendizagem para quem os constrói. O que parece prevalecer em todos é a procura de uma dinâmica de aprendizagem sustentada pelo papel ativo dos próprios estudantes na criação de todo um ambiente que reflete os seus gostos, os seus interesses, as suas competências através de uma atitude de abertura, colaboração e participação apoiadas numa liberdade de escolha que irá refletir também  o seu carácter e a sua preparação para a vida.

    Uma das principais características, inerente a todo este processo, é a perspetiva dos alunos poderem autonomamente definir e controlar a sua aprendizagem.

    No que respeita à ligação destes ambientes pessoais de aprendizagem com os ambientes virtuais de aprendizagem a oposição estabelece-se ao nível da abertura dos sistemas aos princípios da internet 2.0. Enquanto os PLE's permitem uma grande liberdade de escolha os VLE's (normalmente sustentados por sistemas que gerem a aprendizagem - LMS) são ambientes fechados que podem, para alguns condicionar a aprendizagem a programas criados pelas instituições que os controlam. Deve haver uma maior interação entre os PLE´s e os VLE´s de modo a estes não se tornarem obsoletos. A evolução da literacia digital irá determinar, como afirma Blackall a evolução dos ambientes virtuais de aprendizagem, "será cada vez mais difícil justificar os custos dos VLEs para as instituições e as restrições que impõem à liberdade e ao controlo dos utilizadores" (Mota, 2009, p.13).

    A operacionalização dos Personal Learning Environments. No ano em que o artigo foi escrito ainda não havia um grande número aplicações praticas a decorrer, mas são referidas algumas experiências como o projeto CETIS da universidade de Bolton que deu origem a um estudo onde se encontraram uma série de normas ou padrões que podem orientar a sua praticabilidade no futuro.
     Os VLE´s adequam-se pelo seu carácter conservador e organizacional a dar resposta às necessidades educativas das instituições que os usam, mas não às necessidades dos estudantes numa época onde as redes sociais dominam e o conhecimento se encontra por todo o lado na internet. A partir do pressuposto que "num Personal Learning Environment o aprendente utilizará um conjunto único de ferramentas, personalizado de acordo com as suas preferências e necessidades, no seio de um ambiente de aprendizagem único. Isso dará grande liberdade e controlo ao aprendente em termos da colaboração com outros, da utilização de recursos, das atividades em que participa ou da integração das aprendizagens desenvolvidas em diversos contextos e situações" (Mota, 2009, 14), criaram um modelo com um conjunto de regras, (padrões) para que um PLE constitua um bom ambiente de aprendizagem.

    A equipa apresentou o modelo no trabalho Developing a reference model to describe the personal learning environment por Milligan et. al:

1. Padrões de Contexto (Context Patterns) – o estabelecer (ou destruir) de relações entre um tutor e um estudante ou entre este e outros estudantes; pode tomar a forma de tecnologias para estabelecer a presença online, por exemplo.
2. Padrões Conversacionais (Conversation )Patterns) – mecanismos para manter o diálogo na aprendizagem, incluindo o suporte à moderação e à colaboração.
3. Padrões de Rede (Network Patterns) – um padrão de rede envolve os mecanismos de comunicação entre o utilizador final e um serviço.
4. Padrões de Recursos (Resource Patterns) – referem-se ao conteúdo real dos dados transferidos e à sua categorização em formas particulares, bem como aos serviços relacionados com a sua aquisição (pesquisa, por exemplo).
5. Padrões Sociais (Social Patterns) – gestão de perfis pessoais, em conjunto com a gestão de outros contactos e contextos sociais.
6. Padrões de Equipa (Team Patterns) – distingue-se a gestão dos indivíduos (item anterior) e a gestão dos grupos que podem formar-se pela partilha de práticas. Neste ponto, os serviços podem permitir, por exemplo, o convite para integrar grupos e a comunicação distribuída.
7. Padrões Temporais (Temporal Patterns) – relacionam-se com a gestão do tempo pessoal através de serviços de calendário, lembretes, etc.
8. Padrões de Fluxo de Trabalho (Workflow Patterns) – a organização de actividades sequenciadas, que podem incluir tecnologias para suporte à gestão de compromissos assumidos por estudantes e professores mas também sequências pedagógicas desenhadas.
9. Padrões de Actividade (Activity Patterns) – a natureza das actividades desenvolvidas pelas pessoas durante a aprendizagem.

Em seguida, Milligan et al. (op. cit.) identificaram um conjunto de serviços que são recorrentes nestes padrões:

Gestão da Actividade (Activity Management) – este serviço fornece uma função de coordenação para grupos, gerindo a interacção com uma actividade; permite entrar em grupos e sair deles, bem como contribuir com recursos ou aceder aos existentes.
Fluxo de Trabalho (Workflow) – um serviço deste tipo coordena o estado de um recurso como, por exemplo, uma actividade de aprendizagem, processando os eventos relativos aos utilizadores e reportando informação relativa ao estado desse recurso.
Sindicância (Syndication) – permite a descoberta e a contextualização de recursos.
Publicação (Posting) – permite a submissão de recursos.
Grupo (Group) – dá informação relativa à pertença a grupos.
Classificação, Anotação e Recomendação (Rating, Annotating, and Recommending) – em conjunto, estes serviços suportam uma grande variedade de actividades, desde a simples classificação (rating) até ao fornecimento de feedback relativo a um conteúdo específico.
Presença (Presence) – permite indicar a disponibilidade de um utilizador e propagar este estado.
Perfil Pessoal (Personal Profile) – permite ao utilizador manter um perfil pessoal (ou vários) e partilhar esta informação com outros quando necessário ou desejado. Pode ser implementado como FOAF, possivelmente em conjunto com um processo de autenticação.
• Exploração e Percursos (Exploration and Trails) – permite a partilha de percursos através dos conteúdos.

    É curioso também verificar a abordagem de Stephen Downes que defende uma perspetiva mais aberta e não tão controlada por padrões para a construção de um PLE. Este autor defende uma maior liberdade por parte do criador do PLE que pode ir construindo o seu ambiente por módulos usando uma série de diferentes aplicações assente em três princípios de aprendizagem e desenvolvimento pessoais: interação (rede, comunidade) , usabilidade (consistência, controlo, armazenamento de informação) e relevância (imperativo de os aprendentes obterem o que querem, quando querem, como querem e onde querem).

    Resumindo, é um bom artigo a ler para se compreender o aparecimento dos personal learning environments, qual o contexto em que apareceram, como oposição aos virtual learning environements, quais as suas características e como se podem orientar na sua aplicação pratica.

Referências:

MILLIGAN, Colin; BEAUVOIR, Phil; JOHNSON, Mark; SHARPLES, Paul; WILSON, Scott; & LIBER, Oleg. (2006). Developing a reference model to describe the personal learning environment. Project: Personal Learning Environments. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/267736973_A_Reference_Model_for_the_Personal_Learning_Environment

MOTA, José. Personal Learning Environments: Contribultos para uma discussão do conceito. In Educação, Formação & Tecnologias, vol.2 (2); pp. 5-21, novembro de 2009. Disponível em https://www.researchgate.net/publication/45487620_Personal_Learning_Environments_Contributos_para_uma_discussao_do_conceito.



A segunda escolha  

    A minha segunda escolha vai para um vídeo que apresenta a técnica de usar o personal Learning Environment.
   


   
    Este é um exemplo de como se pode aplicar na prática da educação a construção dos PLEs de maneira a ajudar os estudantes a aprenderem a aprender. (learning how to learn). Ajuda-os a identificar a sua rede de informações a refletir sobre essa informação e a colocar em evidência as fontes da informação recolhida.

    Os alunos aprendem a tomar controlo do que aprendem, a relacionar o que aprendem, a criar uma rede visível de conhecimento num projeto prático que poderá lhes dar uma motivação adicional para o seu estudo e uma boa preparação para a aprendizagem ao longo da vida.

    Pode ser criado um tópico e incentivado o uso das ferramentas digitais para recolher informação acerca desse tópico. Promover a interação com outros elementos de maneira a acrescentar mais-valia á construção do seu PLE. Como modo de avaliar o PLE em contexto de estudo formal pode-se usar as rúbricas que no final do projeto irão servir de referência avaliativa para se verificar a qualidade do conteúdo e o bom uso das ferramentas tecnológicas escolhidas para esse efeito.

    Este é um exemplo prático de como se podem usar os PLE's como forma de avaliar o esforço do aluno na criação de um ambiente de informação pessoal que poderá sustentar a maneira como aprendem um determinado tópico e poderá vir a ser usado para demonstrar perante futuros interessados a dimensão do seu esforço. Partindo de um tópico podem alargar a sua busca e empreender outros caminhos, só depende da motivação de cada um.

    Espero ter ajudado a esclarecer um pouco a compreensão de um conceito que pode ser usado em muitos e variados contextos educativos e que tem, como uma das suas principais funções, o fornecimento aos alunos dos meios para controlarem a sua própria aprendizagem e conhecerem-se mais um pouco a si próprios ao descobrirem os seus interesses e a profundidade do seu interesse pelo conhecimento.

Perguntas que faria aos especialistas em PLE's

Alguns defendem uma grande abertura na procura do conhecimento por parte de cada um de nós na criação dos PLEs ao longo da vida, mas sem um pouco de orientação não haverá o perigo de se tornar uma enorme nuvem dispersa de conhecimento misturado com entretenimento, que acabará por se tornar isso mesmo, entretenimento sem grande valor pedagógico?

Na relação com os os VLEs alguns defendem, de modo a estes não desaparecerem, uma maior interação entre os PLEs e os VLEs. Mas como se pode processar essa interação? Através de APIs disponibilizadas pelos criadores de LMS ou de uma outra forma permitindo gerir por exemplo, as várias redes sociais a partir do perfil de um estudante criado num LMS? E como será isso avaliado por um tutor de um curso num VLE?

Sem ser através do empreendedorismo e da ação individual na criação de uma atividade profissional, acham que as instituições empregadoras alguma vez irão usar na sua avaliação para preenchimento de um posto de trabalho o conhecimento acumulado e as experiências aplicacionais, culturais e sociais que um estudante vai criando no seu ambiente pessoal de aprendizagem?

Com a evolução da internet e com a emergência da internet 3.0 e 4.0, com as ferramentas de tratamento de "big data" e as exigências cada vez maiores, em função da procura da transparência e da verdade, em tornar os dados abertos, a utilização cada vez maior do IA e das aplicações de realidade aumentada, entre outras. Qual será na vossa opinião a evolução dos PLEs tendo em conta a emergência destes novos paradigmas?

Se um estudante propuser a criação do seu ambiente pessoal de aprendizagem a partir da DarkWeb (que é real), basta começar a usar o browser "Tor" com mais afinco, qual seria o seu conselho para o orientar nessa tarefa?

Na primeira imagem deste artigo pelo menos uma das aplicações de internet já desapareceu. Qual será o impacto para um estudante ao verificar que parte do seu trabalho de acumulação num ambiente pessoal de aprendizagem irá desaparecer por uma determinada marca decidir finalizar a disponibilização do seu produto por falta de rentabilidade, mesmo que seja gratuito para os utilizadores? O Google+ tinha conteúdos espetaculares.


Cumprimentos,
Pedro Ribeiro





Comentários

  1. O primeiro artigo achei muito interessante! Obrigado pela partilha. Parabéns
    Ester Saraiva

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